CARNAVAL 2025
O xamã devorado y a deglutição bacante de quem ousou sonhar desordem
Conheça nosso Enredo, a Sinopse e entenda nosso tema para 2025!
Sob a luz do carnaval, a Escola de Samba Vai-Vai dedica seu cortejo na próxima folia ao ator, diretor, dramaturgo, encenador, escritor, pensador, Exu, bruxo, xamã, bacante – y, acima de tudo, gente – José Celso Martinez Correa y suas necessárias, valiosas y inquietas produções.
Reverenciar Zé Celso é exaltar a pluralidade y a efervescência cultural do Bixiga. Seu lugar, nosso lugar, berço de nossas essências – do Teatro Oficina y da nossa Saracura!
Que todos os deuses e forças universais estejam conosco nesta grandiosa missão de “samba, liberdade y amor”.
Vamos juntos vislumbrar a aurora da nossa folia. Afinal, quem nunca viu o samba amanhecer...
Sinopse
Cintilam fagulhas que de minha essência mundana escapam. Labaredas pululam de minh’alma (b)errante. Centelhas da luz que adentram y iluminam a profanidade do meu sagrado estado de arte. Eu sou rebentação na quietude, complacência no turbilhão. Sou Exu das artes, bruxo das existências, sábio das mutações. Acima y além, sou Xamã Etherno da Pauliceia bruta y algoz, como voz dissonante que acende o farol do tempo para ligar o passado do querer ao futuro consagrado pelo manto alvinegro do Quilombo Saracura.
Que serei eu – que será de mim? – senão devorado pelo barravento adornado por coroa y ramos de café, que me toma de verdade y intenso ardor de paixão. Serei eu, tomador de olhares, a alimentar a sanha antropofágica que engole minhas vísceras dramáticas y criadoras para delas fazer ciência do poder de Baco!
Devora-me, Vai-Vai! Faz deste ‘eu apocalíptico’ teu vinho y teu pão, matando a fome de cultura de um povo que tem em ti o gosto da existência. Ofereça em praça aberta – y cortejo – meu sangue, inteligência y todas as forças, todas em forma de arte, como quem dá de beber na fonte mais (im)pura e verdadeira. Minha obra é céu aberto de tormentas que te lavam y celebram na encruzilhada-mór do Bixiga. A ti entrego o avesso y o verso do sentir paulistaníssimo.
Com ardor da paixão: Devora-me, Vai-Vai!
“...Y A Deglutição Bancante...
O processar da minha arte se faz lento, mas vigoroso. Digerir minhas visões de infernos y prazeres é buscar ordem no caos. Com Exu na boca, Ogum de frente, Oxalá no coração, Oxóssi atrás y Oxum no movimento, avanço como um rio através de grossos portões. Sou depravo y poeta. Afetuoso no desejo, engulo y devoro o tempo presente. Precipito-me ao futuro, tornando o passado alvo. Na junção dos tempos, empunho o arco, solto a flecha y edifico minha arte. Sigo no afã, entre a vã consciência y o prazeroso sentir... Ao sentir fiz do ofício minha Oficina.
Me entreguei ao confronto dos Anos de Chumbo, quando vivi a vida de “Pequenos Burgueses”, esbanjando “Nossa Vida Impressa em Dólar”. Iludi para desnudar em faces burlescas “O Rei da Vela”, na “Roda Viva” voraz do existir. Dos caminhos de um “Galileu-Galilei”, questionei e neguei “Gracias Señor”. Do cruel drama de “Ham-let” ao auge da luta dos brasis, o que desliza pelas beiras y o entranhado nos sertões de nós, em “Os Sertões”.
Se ofereci resistência à dureza do pensar-agir, o corpo se entregou ao fluxo orgisíaco na total inexistência de pudores y amarras. Se ofereci “As Boas”, foram eles, os “Mistérios Gozozos”. “As Bacantes” rasgaram todas as roupas, adentraram às bocas, às almas, devoram as cartilhas de costumes. Afinal, “Para Dar Um Fim no Juízo de Deus”, convoquei meus guias numa encantada “Macumba Antropofágica”.
Sou tão ardido que nem Baco dá conta de digerir. Minha mente protesta no tanto y quanto a corporeidade expõe. Sou o rebolar nas cucas cerradas. Sou agulha que cinze o esfacelar dos corações invejosos da magia de quem “bacanizou” y teceu a vida nas tramas de amor y liberdade!
...De Quem Ousou Sonhar Desordem
Do alto da nostalgia de minha febril permanência neste cosmo experimentei ousadia. Ousei sonhar desordem. Romper com as ordens. Fluí entre os solavancos da vida y a louca busca por liberdade. Na ordenação inútil da minha desordem, busquei ser começo, fim y começo novamente. Multiplico. Quis nada y tudo. Ao regurgitar minha essência, terão o avesso do meu acerto. Corrompi o Chronos.
Ao cessar do fogo – reluzido em fagulhas, tal qual Prometeu roubando do Sol calor – surgirão dos restos as cinzas no meu sonhar em verde bosque atravessado pelas águas do Rio Bixiga, irmão do Saracura, revelando em cenas reais o vislumbre tropicalista de outrora.
Ao retornar – triunfante, ao raiar do dia – carregado na alegoria caótica das vozes dissonantes y pulsar descompassado dos corações alvinegros – terei eu, o Xamã, ofertado ao povo o regurgitar do mais feliz dos carnavais: o meu carnaval – livre das amarras y faiscante de emoção. Enebriado pela galhofa foliã, terei um cortejo todo meu – uma apoteose – jorrando das entranhas do Bixiga de todos os povos a magia que nem o fogo dá conta de findar.
Se a rua é do povo y o teatro é a voz, eu sou o drama feliz y popular!
Evoé, Vai-Vai... Saravá!
Da arte y do Bixiga, eu: Zé Celso
Atenção Compositores!
Estão abertas as inscrições para nossa disputa de samba para o Carnaval 2024.
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